POETRIX

dos males, o menor

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POETRIX: UM JEITO BRASILEIRO DE FAZER TERCETOS
POETRIX: UM JEITO BRASILEIRO DE FAZER TERCETOS
Por Lílian Maial


Desde seu nascimento, no final da década de 90, o poetrix vem causando polêmica, além de demonstrações dramáticas apelativas de arroubos críticos nos desavisados, ou aqueles que se ocupam em criticar o que não entendem, o que não conhecem a fundo, ou o que simplesmente ignoram. Em alguns casos, apenas o desdém dos que não participaram de seu nascimento.
Goulart Gomes, poeta baiano, é um aficionado pela língua portuguesa, um estudioso de seus signos, e um inteligente defensor de neologismos. Goulart – poeta premiado – freqüentava grupos de estudo e discussão dos haikais, porém, como bom brasileiro (e baiano), percebeu que o haikai é um produto genuinamente oriental, interessando as quatro estações do ano (muito bem delimitadas no Japão), como uma fotografia de instantes poéticos. Nada a ver com nosso modo irreverente, sarcástico e social de fazer poesia. Nada a ver com os modernismos que já eram impostos aos tercetos tropicais, banalizando a terminologia nipônica que tão bem define e pratica o haikai.
Assim, Goulart deixa os grupos de haikais, como um dissidente inquieto, e elabora um manifesto, numa tentativa de “abrasileirar” os tercetos, diferenciando-os dos haikais.
Ora, basta viajar um pouquinho na literatura e na história de todas as línguas, para saber que desde o início do uso da palavra e, a partir dela, da poesia, que os poemas vêm sendo escritos em versos únicos, dísticos, tercetos, quartetos, redondilhas, e daí por diante. Dizer que alguém criou o terceto, é como querer dizer que alguém pretendeu pegar a chuva e criar o orvalho, ou a garoa.
Assim, o que Goulart fez foi ordenar os tercetos, adequar algumas normas, para que ficasse delineado o “perfil” do “terceto tropical”, criar a nomenclatura “poetrix” (que não tem plural), que deriva de “Poe” (de poesia) e “trix” (de três – três versos).
Como qualquer novidade lançada no mercado, há os que aplaudem, os que apedrejam, os que desconfiam e os que se surpreendem por não terem antes pensado naquilo. No meio literário, então, a desconfiança e o despeito (inveja) são mais acirrados, e a crítica (?) tende a derrubar sem maiores argumentos, apenas por se tratar de algo novo. No entanto, o que a crítica (?) não contava era com a modernidade, com a Internet, com a globalização, com a urgência do mundo moderno, em termos de informação em tempo disponível para absorvê-la. Desta forma, a juventude poética e, notadamente, a cibernética, recebeu muito bem o poetrix, embora timidamente.
Goulart, que já era poeta, autor publicado e amante das letras, criou o MIP (Movimento Internacional Poetrix), onde passou a divulgar a idéia, e a acumular adeptos, que estudavam e treinavam na arte da síntese, da argúcia, da surpresa, sem deixar de lado a dona de tudo: a poesia.
Depois de quase uma década, o que se vê é o poetrix difundido pelos quatro cantos do mundo, com aceitação universal, e com a marca da brasilidade em sua gênese, ao menos em seu conteúdo, já que a forma é a simples organização em três versos.
Goulart e os “poetrixtas” (praticantes do poetrix) nunca pretenderam ter inventado nada, ainda porquanto em poesia nada se cria... No entanto, Goulart deu um nome ao que já era praticado por exímios poetas brasileiros (e estrangeiros), que chamavam de haikai todo e qualquer terceto, sem a obediência às normas mais simples do terceto oriental, que são justamente o instante da natureza fotografado pelo poeta, voltado para as quatro estações do ano.  Nomes como Leminski, Millôr, Savary, Drummond e outros tantos, já praticavam o poetrix, apenas usando a terminologia oriental (erradamente, em sua definição).
A “crítica” não abalizada, aquela que apenas aponta e destila um veneninho básico, sem sequer se dar ao trabalho de estudar a fundo a questão, e com uma enorme vontade de depreciar tudo o que vem do Brasil e de brasileiros, usa de expressões jocosas, por vezes chulas, de extremo mau gosto, ao invés de discutir e buscar entender o que se pretende, sem preconceitos inadmissíveis aos críticos de arte. O verdadeiro crítico, o que tem estudo e que guarda profundo conhecimento, esse não dispara impropérios no escuro, não se prende a impressões pessoais e gostos tendenciosos.
O que é fato é que o poetrix “pegou”. E a criatividade do brasileiro é tamanha, que novas e originais formas foram surgindo, como o duplix (uma dificílima combinação de dois poetrix independentes, formando um único poema), o grafitrix (cartões unindo imagem e poetrix) e as cirandas temáticas. E Goulart não alterou regras do haicai, porque simplesmente o poetrix não tem nada a ver com o haicai, a não ser o fato de ter também três versos.
Nossos escritores de nome, citados acima, e muitos outros ainda, já faziam tercetos satíricos, sociais, eróticos, e batizavam erradamente de haikai (ou haiku), pois que não se baseavam em cenas das quatro estações e, em sua maioria, não obedeciam à métrica 5-7-5. Então, como denominar aqueles tercetos drummonianos, leminskianos, savarianos? Poetrix. Sim, poetrix! Nossos maravilhosos e consagrados poetas faziam o que hoje conhecemos como poetrix. Goulart não inventou o terceto, mas deu nome a um tipo de terceto tipicamente brasileiro, já praticado a rodo, e que vinha sendo chamado de haiku (ou haikai), sem sê-lo.

Naturalmente, assim como em todos os gêneros literários, encontramos os bons poetrixtas, os aplicados, os dotados, assim como os oportunistas e os absolutamente incapazes. Culpar o poetrix? Como? Culpar o haiku ou Bashô pelos haikais sem graça de tantos e tantos de seus seguidores? Culpar Shakespeare ou os sonetos pela enxurrada de pseudo-sonetistas modernos? Culpar Bilac por não terem os poetas atuais os ouvidos de ouvir estrelas? Ora! Não se pode culpar nem a poesia pela avalanche de pseudo-críticos também...  (e muito menos a Internet).
Para fazer um bom poetrix, dentro das normas e absolutamente COM POESIA, é necessário ser poeta, estudar, treinar, arriscar, burilar. Não basta pegar uma frase de efeito e dividir em três e dar um título. É preciso muito mais, pois o bom poetrix é muito difícil de ser alcançado.
Para conhecer bem o poetrix, suas diferenças do haikai e suas normas, além dos poetrixtas mais destacados no Brasil e no mundo, basta visitar o site http://www.movimentopoetrix.com
Poetrix
Enviado por Poetrix em 10/01/2009


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